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Arte ajuda mulheres de Itacarambi, Norte de Minas a dizer não à violência


Mulheres de Itacarambi, no Norte de Minas, que vivem em situação de vulnerabilidade social, vêm desenhando outro trajeto de vida por meio do apoio recebido do projeto Viver Mulher, idealizado pela juíza Bárbara Lívio, da 2ª Vara Cível da Comarca de Januária. A mudança de perspectiva para essas mulheres surge também pela arte, presente no projeto. O resultado é a exposição de obras que utilizam elementos da terra em sua confecção, como fibra das folhas de bananeira, sementes e café. Essas obras ficarão expostas no saguão da sede do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), de 12 a 14 de março, das 10h às 18h.
De acordo com a artesã local Aline Ferreira Nunes, a participação nas oficinas de artesanato oferecidas no Grupo de Convivência de Itacarambi ajudou a melhorar muito sua vida.
“É um trabalho muito prazeroso. Em vez de ficar em casa, tenho uma ocupação que ainda gera renda. Eu aprendo e convivo com outras pessoas”, comenta.
É exatamente esse o propósito das atividades realizadas no Centro de Convivência, afirma o secretário de Desenvolvimento Social de Itacarambi, Amílton Rodrigues Alves. “Estímulo pessoal e financeiro, convivência social, buscando com isso o aumento da autoestima das mulheres. Tem mulher que não saía de casa por medo ou vergonha”, afirma.
A juíza Bárbara Lívio ressalta que a situação de cada mulher não é identificada para as outras usuárias, a fim de evitar a estigmatização, o constrangimento e a revitimização. “Trabalhamos também contra a ideia de que aquilo que é feminino é inferior, contra essa conotação negativa”, acrescenta.
Sensibilização
Foi longa a caminhada para articular a Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar, objetivo principal do projeto Viver Mulher. Foi preciso sensibilizar os agentes públicos e a sociedade civil de todos os municípios que integram a comarca.
Implantado inicialmente em Itacarambi, o projeto iniciou-se em 2017, visando abranger ainda os Municípios de Januária, Bonito de Minas, Cônego Marinho e Pedras de Maria da Cruz. Atualmente, mais de 30 mulheres são usuárias da rede e realizam atividades no Centro de Convivência de Itacarambi, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Social do município.
“Hoje eu escuto mulheres dizendo para os companheiros: ‘Olha, se você continuar me xingando, eu vou avisar a juíza’. Veja como foi importante a conscientização da violência, o entendimento dos direitos, a mudança de postura e o reconhecimento de que xingar também é agredir”, lembra a magistrada.
De acordo com a juíza, com o aumento da confiança das mulheres nos serviços prestados pelo poder público, a imagem e a legitimidade do próprio Estado são aperfeiçoadas. “As pessoas começam a acreditar que serão atendidas e apoiadas se buscarem ajuda, o que aumenta a procura por intervenções.”
“O projeto logrou desenvolver os fluxos de atendimento à mulher vítima de violência, sensibilizou e aproximou instituições diferentes. Essas mulheres são acompanhadas em todas as etapas. Nunca estão sozinhas”, reforça.
As mulheres são acolhidas, encaminhadas aos serviços disponíveis no município e, quando necessário, é sugerida a participação no grupo de convivência.

Diálogos em foco
Além de auxiliarem a juíza na concepção do projeto Viver Mulher e na sensibilização dos agentes públicos, as assistentes sociais da comarca, Taiz Dantas Souto e Tereza Cristina do Carmo Pereira, também participam de outro projeto idealizado pela magistrada, o Diálogos em Foco.
Esse projeto tem atuação voltada para o homem e objetiva prevenir e reduzir a violência doméstica contra mulheres, por meio do atendimento aos autores de atos violentos, na perspectiva de reeducação e mudança de comportamento. Os homens são intimados a participar de seis reuniões reflexivas, que acontecem uma vez por mês, no Salão do Júri do Fórum de Januária.
Os encaminhamentos para inserção nos grupos reflexivos são judiciais, em medidas protetivas e decisões condenatórias em processos relativos à Lei 11.340/06.

Acolhimento
Para a assistente social Tereza Cristina, esse é um projeto muito importante também porque complementa o Viver Mulher, com foco na perspectiva do homem. “A gente vê o outro lado, quem é esse sujeito. O homem que é violento com sua esposa, namorada ou companheira, na maioria dos casos, também precisa de ajuda, de tratamento especializado, de acolhimento. Grande parte consome bebida alcoólica, o que pode potencializar a violência.”
“Alguns presenciaram a mãe ser agredida pelo pai ou foram vítimas de violência na infância. São homens de todas as classes sociais e de todas as idades”, conta. Ela relata, ainda, que, na maioria das situações de violência doméstica, o homem passa a agredir ou ameaçar quando a mulher decide se separar e diz que vai deixá-lo.
Todo esse trabalho tem surtido resultados positivos para as famílias atendidas, de acordo com a juíza. As mulheres estão mais conscientes de seus direitos e acreditam que a busca por ajuda irá de fato guiá-las para outra perspectiva nos seus relacionamentos, e os homens entendem que também estão recebendo apoio para mudar seu comportamento.
Atualmente, tramitam em Januária 518 processos de violência doméstica.
Envolvidos
O pleno funcionamento da rede Viver Mulher é viabilizado graças ao envolvimento de vários agentes públicos: Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Polícia Militar, Sistema Único de Saúde (SUS), Sistema Único de Assistência Social (Suas) e demais instituições públicas e da sociedade civil, como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), igrejas e escolas.
Serviço
A exposição será realizada na Avenida Afonso Pena, 4.001, Bairro Serra, em Belo Horizonte, e tem entrada franca.(aconteceunovale.com.br)

 

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