Aluno deficiente físico sofre Bullying numa escola de Pirapora
Um aluno com deficiência
física foi vítima de bullying durante o horário do recreio, na Escola Municipal
Professora Maria Coeli Ribas Andrade e Silva, em Pirapora, no Norte de Minas.
Daniel Pereira de Assis, de 10 anos, nasceu com má formação nas mãos e pernas e
está no quinto ano do ensino fundamental. O momento dos xingamentos foi gravado
por um colega no telefone celular da própria criança e postado nas redes
sociais por uma vizinha, na sexta-feira (30).
Durante a entrevista ao G1, Daniel disse que se sentiu
'machucado' quando foi cercado pelos colegas. “No início eu achei que era uma
brincadeira, mas depois vi que não era. Meus colegas me chamaram de aleijado,
gordo e bolinha de gude e eu me senti como se tivesse machucado meu coração”,
contou na manhã desta segunda-feira (2), sentado no chão da sala da casa - de
quatro cômodos.
Daniel é o caçula de quatro
irmãos; o mais velho tem 25 anos, a irmã, de 18, tem uma filha de colo, e o
terceiro irmão está com 13 anos. A família mora a um quilômetro da escola onde
ele estuda no turno matutino desde os quatro anos. De acordo com os pais, o
fato aconteceu na terça-feira (27), mas a família só tomou conhecimento quando
o irmão mais velho pegou o celular para 'baixar um joguinho'. “Eu fiquei
destruída; a cena dele no meio dos alunos e sendo xingado não sai da minha
cabeça. A gente sabe que já aconteceram outras vezes, mas nenhuma desse jeito.
Eu só soube que Daniel era assim [deficiente] quando ele nasceu, e ele sempre
foi uma criança sorridente. De uns tempos pra cá ele está diferente e quando
chega perto da escola reclama que não quer ir", contou a dona de casa
Aparecida de Assis da Luz, de 42.
A família se sustenta do
benefício de um salário mínimo que a criança recebe e dos ‘bicos’ de capina do
pai. "Sêo" João Santana Pereira da Cruz, de 54, foi coveiro na cidade
por 8 anos, mas perdeu o emprego.
“Este menino é tudo que eu
tenho. Se ele morrer, eu morro junto. A parte mais difícil de ver o vídeo é a
hora que ele desce um degrau pra fugir dos colegas, já que não tem força nas
pernas e mãos”, disse. Com os serviços de capina de lotes e limpeza de covas
quando é contratado pelas famílias, João Pereira recebe R$ 500,00.
Daniel escreve o nome completo
sozinho. Em casa, ele usa o chão para escrever. Na escola, usa a carteira. Ele
conta que gosta de assistir a desenhos e brincar com cinco carrinhos que tem.
Tem o sonho de estudar para se tornar pastor de uma igreja evangélica.
“Eu sou uma criança feliz.
Quando eu chego da escola, fico brincando. Eu gosto de ir à igreja e já sei de
cor a oração do ‘Pai Nosso’. As matérias que mais gosto são matemática, português
e ciências”, disse, enquanto fazia contas no caderno que usa na escola.
Este é o último ano dele na
escola perto de casa em função da mudança do ciclo da educação. Com o episódio,
Daniel pediu para trocar de escola antes do previsto. “Ele já estava indo
algumas vezes para a escola contra a vontade. Agora, ele me pediu e eu também
penso que é melhor pra ele trocar [de escola]. Como que ele fica lá depois
disso? O que eu decidir, o pai dele apoia”, desabafou a mãe.
"É muito revoltante o que
fizeram com ele e eu sei que não é a primeira vez. Eu postei nas redes sociais
para que a Justiça seja feita e quem sabe alguém possa ajudá-lo e ajudar a
família também, que é muito humilde. Há outros relatos de falta de atenção
nessa escola e algo precisa ser feito”, explicou.
O bairro periférico onde
Daniel mora e estuda é o Cidade Jardim. O menino usa uma cadeira de rodas doada
para ir até a escola com a ajuda de algum familiar e não tem uma professora
individual na escola.
Investigação
O Conselho Tutelar informou
que irá registrar dois boletins de ocorrência e que o caso será investigado
pela Polícia Civil, com o conhecimento do Ministério Público.
“Faremos um B.O. para
resguardar o direito do Daniel de estudar e não ser submetido a qualquer
vexame. Nesse sentindo, vamos apurar se houve negligência. Mas também faremos
um registro para investigar em quais circunstâncias o vídeo foi gravado, publicado
e viralizado, já que toda criança tem direito de ser preservada e elas não
poderiam ser expostas”, explicou o conselheiro por dois mandatos Gilson
Barbosa.
Até esta publicação, o
conselheiro não havia ido à casa do aluno vítima dos xingamentos. Gilson
informou ainda que a criança será amparada por profissionais
multidisciplinares. “Ouvimos a direção e professores. Vamos ouvir também os
pais dos alunos que aparecem no vídeo que vieram até a escola. Em seguida,
vamos até a casa do Daniel para ouvir a criança e a família. Queremos ouvir a
vizinha também”, detalhou.
O Conselho Tutelar informou
que nunca recebeu denúncia sobre casos de bullying na Escola Municipal
Professora Maria Coeli Ribas Andrade e Silva.(g1 grande minas)
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