Desvios da Petrobras financiaram campanha de Paulo Guedes a prefeito de Montes Claros/MG, diz delator
Delator da Operação Lava Jato, Walmir
Pinheiro Santana, ex-diretor financeiro da UTC Engenharia, uma das empreiteiras
envolvidas na corrupção na Petrobras, afirmou à PGR (Procuradoria Geral da
República) que R$ 1,8 milhão em recursos desviados da estatal teria financiado
campanhas do PT na eleição municipal de 2012, entre elas a do prefeito de São
Bernardo, Luiz Marinho (PT), e a de Paulo Guedes (PT) em Montes Claros/MG.
Marinho foi reeleito no primeiro turno com 65,79% dos votos. Ele nega as acusações. Guedes não se elegeu, mas foi escolhido pelo governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) para ser o secretário de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais.
Marinho foi reeleito no primeiro turno com 65,79% dos votos. Ele nega as acusações. Guedes não se elegeu, mas foi escolhido pelo governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) para ser o secretário de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais.
Segundo reportagens de ontem da
revista Veja e do jornal O Estado de S. Paulo, Pinheiro disse em depoimento que
R$ 15,5 milhões teriam sido desviados das obras do Comperj (Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro). Parte desse dinheiro (R$ 1,8 milhão) teria
reforçado os caixas de campanhas petistas e outras fatias entregues como
propinas ao ex-ministro da Casa Civil do governo do ex-presidente Lula José Dirceu
(R$ 1,69 milhão) e ao ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior (R$ 400
mil), que foi tesoureiro das campanhas presidenciais de Lula, em 2006, e da
presidente Dilma Rousseff, em 2010. Filippi ainda está nas apostas do PT para
tentar retomar a hegemonia do partido em Diadema – a sigla governou a cidade
por praticamente 30 anos – nas eleições de 2016.
Segundo a delação, todas as
transferências ilícitas foram autorizadas pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto, condenado em setembro a 15 anos e quatro meses de prisão por corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa – está detido desde abril.
De acordo com o delator, a propina também financiou as candidaturas petistas de
Humberto Costa (Recife-PE), Marcio Pochmann (Campinas-SP) e Patrus Ananias
(Belo Horizonte-MG), Durval Ângelo (Contagem-MG) e de Paulo José Guedes (Montes
Claros-MG) — com exceção de Marinho, todos eles foram derrotados.
Dono da UTC, Ricardo Pessoa foi preso
há um ano, mas hoje cumpre prisão domiciliar. À Justiça Federal, ele disse que
pagou propina para o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e para o PT, via
Vaccari. Já o delator Walmir Pinheiro era braço-direito de Pessoa na UTC. O
executivo foi preso no ano passado – indiciado por lavagem de dinheiro,
corrupção ativa e fraudes em licitações públicas –. mas foi solto pela Justiça
Federal do Paraná quatro dias depois. Assim como o empreiteiro, Pinheiro fez
acordo de delação premiada.
No ano passado, o Diário revelou que o
chefe do Executivo de São Bernardo mantinha contratos em sua segunda gestão com
empreiteiras envolvidas na Lava Jato, cujos presidentes ou diretores foram
presos pela PF.
Em 2014, a Construtora OAS recebeu R$
30,3 milhões em contratos diretos para tocar obras de canalização e
antienchente do Ribeirão dos Couros. A OAS também ergueu outras construções do
governo Marinho, como o centro de desenvolvimento de handebol, do ginásio de
atletismo, do CEU (Centro de Educação Unificado) na Vila São Pedro, do conjunto
habitacional Jardim Esmeralda e de urbanização do Jardim Silvina.
Atualmente a empreiteira, tida pela PF
como corruptora, é responsável pela principal obra antienchente da
administração petista: o Projeto Drenar. Orçadas em R$ 600 milhões, as obras
são gerenciadas por Tarcísio Secoli (PT), secretário de Serviços Urbanos da
cidade e candidato escolhido por Marinho à sucessão municipal do ano que vem.
Outra companhia alvo no esquema de
corrupção da Petrobras, a Odebrecht foi contratada por R$ 59,3 milhões para
erguer 560 apartamentos em conjunto habitacional no Jardim Silvina. O
Ministério Público investiga se há ramificação da Lava Jato em São Bernardo.
DOAÇÕES
No pleito de 2012, segundo dados da
prestação de contas à Justiça Eleitoral, Marinho recebeu doações de duas
construtoras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras. A Noberto
Odebrecht e a OAS doaram, cada uma, R$ 50 mil à campanha do petista à reeleição
– no total, custou quase R$ 5 milhões ao PT.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, Marinho afirmou que as doações de 2012 foram recebidas de forma
lícita e que as contas da campanha foram entregues e aprovadas pela Justiça
Eleitoral. Procurado, Filippi não quis se manifestar sobre o assunto.
Grande ABC entra pela 2ª vez na Lava
Jato
A delação de Walmir Pinheiro Santana,
ex-diretor da UTC, revelando que recursos desviados da Petrobras teriam
financiado a campanha vitoriosa à reeleição do prefeito de São Bernardo, Luiz
Marinho (PT), coloca o Grande ABC pela segunda vez no rol das investigações da
Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que já deflagrou sua 19ª fase.
A primeira vez em que a região
apareceu no esquema foi em abril, durante a 12ª fase dos trabalhos. A PF
concluiu que João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, utilizou a Editora Gráfica
Atitude Ltda como ponte para receber propina sobre contratos da estatal.
Embora sediada na Capital, a empresa é
controlada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, localizado no bairro
Ferrazópolis, em São Bernardo, e tem em seu quadro societário o deputado
estadual Teonílio Monteiro da Costa, o Barba (PT). O secretário de Serviços
Urbanos de São Bernardo e pré-candidato de Marinho à sucessão municipal,
Tarcisio Secoli (PT), também já foi sócio da editora. Os dois negam as
irregularidades.
Segundo as denúncias, donos de
empresas que tinham contratos com a Petrobras disseram que eram obrigados a
transferir parte do dinheiro dos acordos para a conta da editora controlada
pelo sindicato, berço político do PT e do ex-presidente Lula.
Documentos apreendidos pela PF
indicaram três pagamentos suspeitos à empresa na época em que Tarcisio –
braço-direito de Marinho – estava na editora. Uma transferência ocorreu no dia
29 de junho de 2010, outra em 6 de julho e a terceira em 9 de agosto do mesmo
ano, totalizando R$ 281,5 mil. Um dos denunciantes foi o proprietário da Setal
Óleo e Gás, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto.
Por:Fábio de Oliva
EDIÇÃO: JOÃO MIGUEL
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