Quase 100% dos agricultores de Itacarambi terão que receber ajuda do MDA
DONA SEBASTIANA
Por Queila Ariadne
Na Ilha da Maria Preta, em Itacarambi, no
Norte de Minas, Seu Miguel Rodrigues da Silva, 65, plantou abóbora, melancia e
feijão. Mas não colheu nada neste ano. Seu Tonho Pescoço, como é chamado o
agricultor Antônio Correia Ramos, 64, também não. Nem dona Sebastiana Pereira,
68. Para eles, viver sem chuva já é de costume. Já conviver com as poucas águas
do São Francisco, é um desafio novo. A maioria dos ribeirinhos perdeu
praticamente toda a plantação.
Dos cerca de 400 cadastrados pela Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural
do Estado de Minas Gerais (Emater), 382 já estão
aptos a receber o Garantia Safra – um seguro pago pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para
quem perde mais de 50% da...
produção e tem renda mensal de até 1,5
salário mínimo. “Se o rio fica baixo, tira a umidade do solo”, explica o
presidente da Associação dos Vazanteiros do Município de Itacarambi (AVMI), Cícero Ferreira
de Lima. Seu Miguel nem acredita na
situação. “Para você ter uma ideia, outro dia meu filho pediu pra eu mandar
umas coisas da roça e eu tive que comprar abóbora”, lamenta.
A assistente administrativa da Emater,
Rodnéia Félix, explica que o pagamento do seguro começará a partir de outubro.
“Estima-se que as perdas sejam de R$ 5,7 milhões”, afirma. Os números estão
detalhados em um relatório de prejuízos enviado ao governo para confirmar a
necessidade de ajuda. O documento indica perdas de R$ 4,23 milhões na
agricultura, com lavouras de milho, feijão, mandioca e cana-de-açúcar; e de R$
1,5 milhão na pecuária.
Segundo o MDA, cada agricultor receberá R$
850, dividido em cinco parcelas de R$ 170. Portanto, Itacarambi receberá neste
ano cerca de R$ 325 mil, 8% a mais do que o montante liberado para a safra
2012/2013.
Não falta água só para a agricultura. Como
muitas famílias dependem de poços artesianos para receber água em casa, até o
consumo está comprometido. “Eu furei um poço, mas agora não sai mais nada”,
conta Tonho. “É uma tristeza, pois a
gente tirava água do poço do Tonho pra beber. Agora, eu tenho que buscar
lá no rio, de carrinho, é muito difícil”, diz dona Sebastiana.
Pedido.
O presidente da associação dos produtores
reclama do descaso em relação ao São Francisco e da falta de preservação das
suas margens. “Se hoje eu tivesse a oportunidade de falar com alguém do
governo, meu pedido seria para que eles nos ouvissem. Tem que acabar com o
desmatamento e, ao invés de preocupar tanto com energia, pensar mais na água.
Sem ela, ninguém vive e acaba até a comida”, afirma Cícero,
destacando que eles sabem viver na seca, mas precisam de apoio.
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