POR LUIS CLAUDIO GUEDES
Hábito de pagar almoços e jantares para elite de servidor público em
prefeituras abre as portas para a corrupção
Vai longe o tempo em que a política era terreno propício para a ação dos
idealistas. Se é que esse tempo existiu. Pequenos desvios de condutas abrem as
cancelas que levam às grandes maracutaias, de modo que os agentes políticos, em
especial aqueles em cargos executivos, deveriam ser mais zelosos na relação com
a coisa pública durante a vigência do mandato.
Vou ficar em um pequeno e elucidativo exemplo do que se pretende dizer
aqui: vejam essa farra generalizada já há um tempo em voga nos pequenos
municípios do norte-mineiro [e certamente de todo o país] em servidores
públicos, normalmente em cargos de confiança, abusam da prerrogativa não
validada pelas urnas de frequentaram os melhores restaurantes de suas cidades e
mandar a conta para a contabilidade do município. O prefeito que concorda com a
prática sinaliza frouxidão ética e moral inaceitável para quem tem a
responsabilidade de cuidar do interesse comum.
Querem um exemplo? No acordo de delação premiada firmado com o Ministério
Público de Januária, em novembro de 2013, o ex-secretário de Governo e
Administração da Prefeitura de Itacarambi Nestor Fernandes de Moura Neto
descreveu, para os atônitos promotores os promotores Franklin Pereira Mendes e
Daniela Yokoyama, um verdadeiro manual de corrupção na administração pública
municipal.
O ex-secretário Nestor narrou, com riqueza de detalhes o esquema
fraudulento montado pelo empresário Marcos Vinicius Crispim, o Corby, preso há
pouco mais de um ano, sob a acusação de comandar ‘organização criminosa’
responsável por fraudar licitações em várias prefeituras norte-mineiras.
Há de tudo um pouco na narrativa do ex-secretário sobre as peripécias de
Corby et caterva em Itacarambi e outras cidade da região: direcionamento de
licitações, fraudes em documentos públicos, suborno e até o pagamento de contas
pessoais, em que se encaixam festas privadas, combustíveis, estadias em hotéis
e o velho hábito de comer bem às custas do contribuinte.
Segundo Nestor, a turma do ex-prefeito Rudimar Barbosa forjava
pagamentos de diárias em viagens inexistentes para bancar “churrascos de alto
padrão”, que incluíam até bebidas alcoólicas. Ele diz que tentou acabar com a
vida boa de certa elite de servidores, responsável pelo gasto médio mensal com
almoços e jantares de R$ 5 mil. Ainda segundo o ex-secretário, Corby paga
todas as despesas de Rudimar e enviava a fatura para a prefeitura em cobranças
por serviços jamais realizados.
O ex-secretário e sua mulher, Daniela Pinto Mota, nomeada chefe do setor
de licitações da Prefeitura de Itacarambi, foram presos pela Polícia Federal,
em maio de 2013, na esteira da operação Sertão Veredas, que foi desdobramento
da operação Padrinhos de Casamento, realizada no final de 2012 em Itacarambi, e
que fazia alusão ao fato do ex-prefeito Rudimar e o empresário Corby terem sido
os padrinhos do enlace entre Nestor e Daniela. O ex-secretário sabe do está
falando, porque foi protagonista e testemunha ocular das muitas das fraudes
listadas na investigação.
E aqui voltamos ao ponto de partida...
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