Rio São Francisco é último refúgio de comunidades
Pirapora, Várzea da Palma, São
Francisco, Januária, Pedras de Maria da Cruz, Itacarambi, Matias Cardoso e Manga – Os moradores das
ilhas do Rio São Francisco passaram à condição de ilhéus depois de serem
expulsos de antigas áreas nas margens. É o que revelam especialistas que
desenvolveram trabalhos sobre comunidades tradicionais, ouvidos pelo Estado de
Minas. “Essa população só mora em ilhas hoje porque foi expulsa da terra firme
pelos fazendeiros”, afirma o antropólogo Aderval Costa Filho, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ele salienta que os moradores das ilhas compõem comunidades tradicionais, que vivem da pesca e da pequena agricultura. “Eles não dependem somente das ilhas, mas também da terra firme. Têm vínculos familiares em um território específico. Têm vínculo ancestral. Estão nas ilhas há três, quatro, cinco gerações”, explica Aderval. Segundo ele, a melhoria das condições para esses povos tradicionais somente será proporcionada a partir do acesso à educação e à regularização fundiária das áreas que possam ser cultivadas por eles. “São duas frentes fundamentais, pois não podemos nos preocupar somente com o modo de vida dessas pessoas, mas também com a preservação da própria identidade cultural delas”, observa.
O engenheiro-agrônomo e ambientalista Carlos Dayrell, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, salienta que os povos das ilhas do Rio São Francisco precisam ser vistos sob uma perspectiva histórica. “São famílias que historicamente viveram ao longo do rio. Essa vivência vem de muitos séculos.” Dayrell ressalta que, apesar das dificuldades, os “ilhados” têm estratégias próprias para conviver com as dinâmicas do rio, as enchentes e a redução da vazão. “Eles convivem com esses fenômenos de maneira singular. Pescam, plantam e colhem sem interferir de maneira significativa com o ambiente.”
O ambientalista ressalta que, antigamente, os chamados “vazanteiros”, em grande parte, moravam perto das margens do São Francisco, na terra firme, e ocupavam as ilhas de maneira temporária, no período de estiagem. Mas, nas décadas de 1960 e 70, por conta do pressão dos grandes fazendeiros, foram obrigados a se mudar de vez para o meio do rio. “O processo desenvolvimentista empurrou essas famílias para dentro das ilhas, que estão sendo o último refúgio delas. Elas não são expulsas porque esses são territórios da União”, explica.
Os ocupantes dessas terras federais têm apenas – e informalmente – o direito ao uso de determinadas áreas. Os “limites” são estipulados por marcações feitas pelos próprios ocupantes. Apesar da informalidade, eles vivem em harmonia e cada um respeita o limite do outro. Cercas só são usadas para a criação de animais e separação entre o pasto e a plantação.
ILHADOS E QUASE DESCONHECIDOS Não há estudo atualizado sobre o total de moradores das ilhas do Rio São Francisco, mas cadastramento realizado pela Cemig para o Programa Luz para Todos indica que é expressiva essa população. Foram cadastradas 741 famílias em 31 ilhas nos municípios de São Romão, São Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januária, Itacarambi, Matias Cardoso e Manga. Mas há também a Ilha do Boi, em Várzea da Palma, com 30 famílias, não incluída no programa. A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente, em busca de mapeamento e extensão de terras das ilhas, mas não obteve retorno.(jornal o EM)
Ele salienta que os moradores das ilhas compõem comunidades tradicionais, que vivem da pesca e da pequena agricultura. “Eles não dependem somente das ilhas, mas também da terra firme. Têm vínculos familiares em um território específico. Têm vínculo ancestral. Estão nas ilhas há três, quatro, cinco gerações”, explica Aderval. Segundo ele, a melhoria das condições para esses povos tradicionais somente será proporcionada a partir do acesso à educação e à regularização fundiária das áreas que possam ser cultivadas por eles. “São duas frentes fundamentais, pois não podemos nos preocupar somente com o modo de vida dessas pessoas, mas também com a preservação da própria identidade cultural delas”, observa.
O engenheiro-agrônomo e ambientalista Carlos Dayrell, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, salienta que os povos das ilhas do Rio São Francisco precisam ser vistos sob uma perspectiva histórica. “São famílias que historicamente viveram ao longo do rio. Essa vivência vem de muitos séculos.” Dayrell ressalta que, apesar das dificuldades, os “ilhados” têm estratégias próprias para conviver com as dinâmicas do rio, as enchentes e a redução da vazão. “Eles convivem com esses fenômenos de maneira singular. Pescam, plantam e colhem sem interferir de maneira significativa com o ambiente.”
O ambientalista ressalta que, antigamente, os chamados “vazanteiros”, em grande parte, moravam perto das margens do São Francisco, na terra firme, e ocupavam as ilhas de maneira temporária, no período de estiagem. Mas, nas décadas de 1960 e 70, por conta do pressão dos grandes fazendeiros, foram obrigados a se mudar de vez para o meio do rio. “O processo desenvolvimentista empurrou essas famílias para dentro das ilhas, que estão sendo o último refúgio delas. Elas não são expulsas porque esses são territórios da União”, explica.
Os ocupantes dessas terras federais têm apenas – e informalmente – o direito ao uso de determinadas áreas. Os “limites” são estipulados por marcações feitas pelos próprios ocupantes. Apesar da informalidade, eles vivem em harmonia e cada um respeita o limite do outro. Cercas só são usadas para a criação de animais e separação entre o pasto e a plantação.
ILHADOS E QUASE DESCONHECIDOS Não há estudo atualizado sobre o total de moradores das ilhas do Rio São Francisco, mas cadastramento realizado pela Cemig para o Programa Luz para Todos indica que é expressiva essa população. Foram cadastradas 741 famílias em 31 ilhas nos municípios de São Romão, São Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januária, Itacarambi, Matias Cardoso e Manga. Mas há também a Ilha do Boi, em Várzea da Palma, com 30 famílias, não incluída no programa. A reportagem entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente, em busca de mapeamento e extensão de terras das ilhas, mas não obteve retorno.(jornal o EM)
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